Numa sociedade em que estar fora dos padrões de beleza estabelecidos, na qual se propagam constantemente mensagens de que o magérrimo é o ideal de beleza, muitos pais tendem a entrar em pânico sobre o peso de suas filhas, até mesmo quando a menina ainda é um bebê gordinho e saudável ou na entrada da puberdade, quando naturalmente suas células de gordura duplicam. Essa preocupação em manter as medidas, cuidar de modo exagerado da alimentação, querer que a filha coma e beba tudo diet desde pequena, pode se tornar parte da atmosfera do lar, afetando todos os membros da família.
Uma criança que percebe a desaprovação dos pais - mesmo as menores percebem quando desagradam - vai se sentir emocionalmente abandonada. E crianças que se sentem abandonadas frequentemente se acalmam e confortam com comida! Isso significa que a reação inapropriada dos pais ao corpo da filha pode contribuir para futuros problemas de alimentação.
Principalmente a atitude do pai em relação à filha pode fazer toda a diferença na autopercepção dela, de gostar e aceitar o próprio corpo ou não. Mas como mãe e filhas partilham muitas coisas, por serem ambas mulheres, muitas das preocupações da mãe com seu corpo e beleza podem passar como modelo de vida para a filha. Assim, são as mães quem mais profundamente influenciam a visão das filhas sobre o próprio corpo, de como se cuidar ou não, como valorizá-lo ou não, e essa modelagem se inicia muito cedo.
Atualmente, já ouvimos muitas vezes meninas pequenas falando que estão de regime, que precisam fazer mais abdominais ou andar mais na esteira para perder peso.
Como não transformar a preocupação com o corpo saudável em uma paranoia em busca da perfeição? O que fazer para que a filha possa ter uma boa imagem corporal, e se sinta amada como é?
Muitas vezes, ao longo do crescimento, as questões em relação ao próprio corpo já vêm de situações ou visões distorcidas que a própria mãe tem sobre si mesma. Assim, é muito importante que a mãe se permita olhar para trás, para suas próprias experiências, às vezes doloridas, em relação ao próprio corpo. Para isso, será importante querer re-visitar e explorar as primeiras memórias, que podem incluir rejeição dos pais, um drama familiar que pode ter feito dela o centro das atenções ou quem sabe então o peso do pai, irmão ou tia. Às vezes, mesmo um apelido carinhoso da infância, mas que fazia referência à forma do corpo, a alguma característica física, ou ao peso (para mais ou para menos), pode gerar mágoa profunda e grande dificuldade em se aceitar como é.
Uma boa maneira de acessar essas ideias que você tem sobre seu corpo, sobre você e os outros é escrever uma carta, mas que você não vai enviar. Escreva primeiro para um dos pais, e depois para o outro. Sua carta pode começar assim: "Querida mamãe, sou muito crítica a respeito do corpo da (escrever o nome da filha), e isso pode de alguma forma estar relacionado com as minhas experiências da infância." Não pense sobre o que você quer escrever, deixe fluir, você não vai enviar mesmo... Quando você identificar eventos doloridos, imagens, sentimentos, gaste um tempo escrevendo sobre isso. Muito provavelmente você sentirá uma sensação de alívio e eventualmente se tornará mais capaz de aceitar seu corpo e o corpo de sua filha. Mãos à obra!
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